Becket, o favorito do Rei, é um filme de 1964 que narra a história do Arcebispo Thomas Becket e sua luta contra o rei Henrique II pelo controle dos assuntos eclesiásticos na Inglaterra do século XII. O conflito entre Igreja e Estado, que já estava latente desde a Idade Média, atingiu o seu ápice com o caso Becket, que culminou na morte trágica do Arcebispo na Catedral de Cantuária.

Hoje, mais de oito séculos depois, a relação entre Igreja e Estado ainda é tema de polêmica e discussão na Inglaterra e em muitos outros países do mundo. Questões controversas, como aborto, casamento homoafetivo e proteção à vida, provocam fortes embates entre a sociedade civil e as instituições religiosas, que lutam pelo direito de impor suas concepções sobre o bem e o mal.

Na Inglaterra moderna, a Igreja Anglicana é a denominação oficial e tem grande influência sobre a política e a cultura do país. No entanto, desde a separação da Igreja Católica no século XVI, o Estado tem buscado diminuir a interferência da religião em assuntos de Estado, garantindo a laicidade do poder público. Isso tem gerado atritos entre lideranças religiosas e políticas, especialmente em momentos de crise e desunião nacional.

Um exemplo recente foi a aprovação do casamento homoafetivo pelo Parlamento em 2013, que gerou forte reação entre os líderes da Igreja Anglicana. Muitos bispos e clérigos se opuseram à medida, argumentando que ela fere os valores tradicionais da instituição familiar e que permitir a união entre pessoas do mesmo sexo é um ataque à moralidade do país.

Por outro lado, a sociedade civil e ativistas dos direitos LGBT comemoraram a aprovação como uma grande conquista para a igualdade e a justiça social. O direito de amar e casar-se com pessoas do mesmo sexo é visto como uma extensão da luta pelos direitos civis, que tem como objetivo acabar com a discriminação e a exclusão social.

Outra questão que tem gerado conflito entre Igreja e Estado na Inglaterra é o aborto. Embora seja legalizado desde 1967, o aborto é um tema bastante controverso entre as lideranças religiosas e a sociedade em geral. A Igreja Católica, por exemplo, considera o aborto um pecado grave e uma afronta à vida humana, enquanto grupos feministas e de direitos humanos defendem o direito da mulher de escolher o que fazer com o próprio corpo.

É interessante ressaltar que, apesar das divergências e dos conflitos, muitas lideranças religiosas e políticas têm buscado conciliar os interesses e as demandas de ambos os lados. A Igreja Anglicana, por exemplo, tem promovido o diálogo inter-religioso e a tolerância, aceitando e acolhendo pessoas de diferentes orientações sexuais e religiões. Já o Estado, por sua vez, tem buscado criar políticas públicas que respeitem as diferentes crenças e valores dos cidadãos, sem ferir a laicidade do poder público.

É importante ressaltar também que, apesar das diferenças, a relação entre Igreja e Estado é fundamental para a estabilidade de uma sociedade democrática. Ambas as esferas têm papéis distintos e complementares, mas devem estar sempre em sintonia com as necessidades e as expectativas da população. A história da Inglaterra e do caso Becket pode nos ensinar muito sobre a importância da liberdade religiosa e da separação entre poder religioso e poder político, sem que haja a negação das suas influências francas no modelo de vida em sociedade.

Fim.